Diariamente trabalho com meus pacientes a dificuldade que eles têm em lidar com o fato de que estão fazendo uso de medicação psiquiátrica. Por quê? Porque aceitar tomar uma medicação que supostamente é para ” louco”, ” fracassados”, ” uma muleta”, nos torna tudo isso. Como se o fato de ter que tomar uma medicação psiquiátrica de fato fosse um atestado de incompetência emocional.
Com frequência a pessoa está em uma primeira consulta, e já me pergunta quando vai poder parar o remédio. ” Mas você nem começou ainda?”, é o que eu respondo.
Por que será que aceitamos tomar medicações para literalmente tudo, menos para a parte psiquiátrica. Algumas, para não dizer várias vezes me deparo com situações nas quais a pessoa toma medicações para: hipertensão, diabetes, gastrite, mas o ” meu” remédio, como costumo brincar, ela é extremamente resistente.
Qual a diferença entre aceitar ter um quadro de hipertensão que irá necessitar de uso medicamentoso de forma contínua e fazer uso da medicação psiquiátrica para controlar suas crises de pânico, seus sintomas depressivos, por exemplo? Aparentemente, na percepção emocional, existe muita diferença. Mas essa diferença existe somente por uma questão, eu diria, muitas vezes, única e exclusivamente cultural na qual ” estar bem, é estar sem remédios psiquiátricos”. Interessante que essa premissa não ocorre com o oftalmologista, com o cardiologista por exemplo. Aceitamos a limitação e a necessidade que nosso corpo porventura possa ter em relação a precisar de medicações para controlar os batimentos cardíacos, aceitamos o óculos quando não enxergamos bem, mas não aceitamos a psiquiatria medicamentosa para estarmos emocionalmente bem.
Costumo brincar com meus pacientes, que se as doenças psiquiátricas fossem todas ” falta de vergonha na cara”, para os sintomas depressivos, ” histeria de mulher que não tem o que fazer” para os sintomas do pânico, por exemplo, eu não precisaria existir. Se eu existo, é porque trato doenças tão ou mais incapacitantes que as outras áreas da medicina, o que precisa mudar, é a nossa compreensão da psiquiatria. Você não é um comprimido por que o ingere, isso não define quem você é.



CRM/SP: 149.885 - Médica Psiquiátra