O problema em fazer psicoterapia | Dra. Rosamaria Raza
Café com Psiquiatria Café com Psiquiatria

CRM/SP: 149.885 - Médica Psiquiátra

(11) 9 8592-7717

O problema em fazer psicoterapia

Nós sempre escutamos que fazer terapia é algo importante, que pode mudar a nossa percepção sobre nossos sentimentos, sobre nós mesmos.

“Um espelho para dentro”, “ janela para a alma”, “ auto-conhecimento”, são algumas das descrições sobre a vantagem de iniciar esse processo terapêutico.

A ciência hoje em dia está confirmando o que há aproximadamente um século os estudiosos da área já sabiam: terapia funciona. Terapia reconfigura nosso funcionamento cerebral. Em casos de depressão leve, a terapia obteve em comparação ao tratamento psicofarmacológico a mesma eficácia. A diferença observada foi que a taxa de reagudização, isto é, o retorno dos sintomas depressivos, a longo prazo no grupo que fez terapia versus o grupo medicamentoso foi menor. Ou seja, terapia muda paradigmas internos, nos faz compreender a causa de muitas situações emocionais de sofrimento que nos colocamos, e com isso, a chance de novos episódios diminui.

Costumo brincar com meus pacientes que o grande problema de estarmos fazendo terapia é que muitas vezes as pessoas importantes da nossa vida não estão. Com o tempo, começamos a reanalisar dinâmicas sociais e paradigmas interpessoais com familiares, cônjuges, e nos damos conta de padrões que queremos não vivenciar mais. Só que o processo terapêutico não abrangeu a todos os envolvidos. Como lidar com isso?

“Quem tem mais consciência carrega o maior fardo”. Sim, a maior parcela de responsabilidade em termos de como lidar com as percepções que adquirimos em terapia é nossa.

Existe um momento durante o nosso processo de auto-conhecimento em que queremos mudar, reconfigurar padrões que não nos fazem bem, mas não podemos esquecer, que as outras pessoas da nossa vida, não estão necessariamente na mesma página que nós. Infelizmente, ou felizmente, temos a tendência em achar que no momento em que as nossas fichas caem, isso acontece automaticamente para os outros ao nosso redor, mas na maioria das vezes não é assim.

Um paciente uma vez me disse: quem olha de fora, acha que está tudo igual, mas dentro de mim, existe um turbilhão em mudança que as pessoas da minha vida ainda não conseguem ver.

Como somos duros em exigir que o outro reconheça as nossas mudanças com rapidez, mas somos intolerantes para aguardar o tempo que o outro muitas vezes precisa para lidar com essas mesmas mudanças.

Esse processo muitas vezes é doloroso e lento, pois fazer terapia é um ato de extrema coragem. Reconhecer mudanças e trocar a fotografia do porta retrato do outro dentro de nós é um processo que leva tempo e muitas vezes difícil.

 

 

Gostou? Deixe seu comentário.

*
*

« Artigo Anterior

” Tomo qualquer remédio menos psiquiátrico”

Próximo Artigo »

A teoria do pato e como ela está ligada ao nosso insucesso